UHF : Noites Negras de Azul

Rock / Portugal
(1988 - Edisom)
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Lyrics


1. NOVE ANOS

Nove anos é tanto tempo
Passei a correr por aí,
Com uma guitarra bandoleira
Espalhando cinzas pelo país.

Conheci gente de todo o lado
Floresta minha uivando sem parar,
E outra gente daqui bem perto
Armas escritas surdas a matar.

Há nove anos soltei amarras
Em nove anos peguei de caras, peguei de caras.

Mordi nos sorrisos mais estridentes
Hotel à noite, outra cidade,
Entrei pelos olhos mais descarados
Fácil de mais para ser verdade.

Senti o medo à beira do palco
Olhei a cor da provocação,
Armei cantor esse pateta
A glória da vida é uma canção.

Há nove anos soltei amarras
Em nove anos peguei de caras, peguei de caras.

Caí no cerco, caí a fingir
A velha história de camas desfeitas,
Molhei a espera do ouro do whisky
Um cabotino que o ódio espreita.

Em nove anos corri sem parar
Com as raízes fora da terra,
Diverti-me assim sem ligar
A morte cínica de uma fera.

Há nove anos soltei amarras
Em nove anos peguei de caras, peguei de caras,
Há nove anos.


2. COMPLETAMENTE INFIEL

Tu podes correr para mim
Dizer que é só para mim,
Podes mentir e abusar
Que os dias estão a passar.

Depois de tudo o que vivemos
Sobre o amor caiu um pano,
Podemos rir a recordar
Contar aos outros e inventar.

Que eu sou, serei sempre
Completamente infiel.

Às vezes fujo e fecho a porta
E o mundo fica lá fora,
Cheguei a horas ao sítio errado
As pessoas falaram e eu estive calado.

Nada de ti por carta ou telefone
Mas sabes entrar como se nada fosse,
Dois passos de dança enchem a sala
Remexes papéis, perguntas e falas.

Mas eu sou, serei sempre
Completamente infiel.

A noite cai na grande janela
Aqui junto ao mar eu paro a vê-la,
Vestido negro a flutuar
Um carro à espera que vai arrancar.

Levando daqui todos os sonhos
Anjo infiel caindo aos poucos,
De pé junto ao vidro eu fico a beber
Agora que o muro se vai abater.

E eu sou, serei sempre
Completamente infiel.


3. QUERO ESTOIRAR; E UMA ORAÇÃO

Andei pelos bares da cidade
À procura de conforto,
Na ponta, na ponta de uma navalha
Que rasgue de pronto a escuridão,
A escuridão.

Procurei por todo o lado
As ordens do instinto,
Procurei por todo o lado
O espelho mestre da vida,
O espelho da vida.

Quero acabar sob a força bruta
Desse monstro, desse monstro d'aço,
Que surja veloz numa curva
E encerre este caso,
Este caso.

Preso à fera, a espera aperta
Conversa num minuto de silêncio,
Fá-lo por dentro, fá-lo por dentro.

Quero estoirar no fim da jornada
Perdi o orgulho e o medo,
Do outro lado talvez convenha
Umas férias em sossego,
Em sossego. Quero estoirar.

Índio - encantado
Índio - sem idade
Índio - burlesco
Ín dio - tango
Ín dio - imenso incêndio fora de mim
Ín deo - preso aqui, por ti, não sei
Ín deo - mas tu és e tu vens
Em Deus - louca de ti em mim, eu também
Em Deus - ahh

Os poetas do século vinte não escrevem livros
Armam-se cantores e soltam gritos de rebelião.

Encantado... sem... incêndio... mim... preso
Não sei... tu és... em mim... também.


4. NOITES NEGRAS DE AZUL

Do centro da noite
Vem uma luz,
Um vulto com sorte
Que me seduz.

Se esse for eu
No traço da morte,
A noite convida
O abuso da sorte.

É da noite que nasce o dia
À procura de uma saída,
Noites negras da minha vida
Eram de azul à partida.

Do lado da ponte
Bulício crescente,
Em fogo as carcaças
Ardem lentamente.

Estranha é a noite
Descrita por nós,
Vezes sem conta
Um rio sem foz.

É da noite que nasce o dia
À procura de uma saída,
Noites negras da minha vida
Eram de azul à partida.

Há noites lendas
Em noites de paixão,
Olhos a brilhar
Sangue sedução.

E do fim da noite
Vem essa luz,
Do lado nascente
Que nos conduz.

É da noite que nasce o dia
À procura de uma saída,
Noites negras da minha vida
Eram de azul à partida,
É da noite.


5. NA TUA CAMA

Na tua cama
Onde as horas se consomem,
Na tua cama
Fui de rapaz até homem.

Mexendo lençóis nos poemas
Bebendo aos poucos sem pressa,
Abriste-me o teu abrigo
Ficarei preso contigo.

Na tua cama, na tua cama.

Na tua cama
Houve murmúrios de ondas,
Na tua cama
O brilho da Lua nas águas.

O cheiro do corpo é quente
A ânsia que faz o instante,
Tomar conta de nós
Palavras tantas sem voz.

Na tua cama, na tua cama.

E se algum dia nos afastarmos
É porque o jogo não pode durar,
E se algum dia nos encontrarmos
É a vida que eu quero desafiar.

Na tua cama, na tua cama
Na tua cama.


6. EM VIOLÊNCIA

Dias quente dias frios
Dias falsos se estilo
Dias difíceis que fazem sofrer.

Dias de espera, besta ou fera
Ser o primeiro, bombo da festa
Dias difíceis que fazem sofrer.

E correr em violência
E correr em violência.

Dias cinzentos feitos em bocados
Preso à pele, dentes cerrados
Dias difíceis que fazem sofrer.

Dias ferozes, dias sinceros
Escravo das horas, servindo o medo
Dias difíceis que fazem sofrer.

E correr em violência
E correr em violência.

Dias aqui, dias além
Feito em tiras, perdido também
Dias difíceis que fazem sofrer.

Filho da vida, filho sem mãe
Corpo vampiro do próprio sangue
Dias difíceis que fazem sofrer.

E correr em violência
E correr em violência.


7. SONHOS NA ESTRADA DE SINTRA

Poisa o teu braço no meu
Ajuda-me a seguir,
Ao virar esta esquina
Há um paraíso por descobrir.

Não quero que assistas a esta lenta bebedeira
Porto-me como uma criança faminta,
Vem embriagar-te comigo à beira
Ah de um barco, copo de absinto.

Mas dança, dança, dança p'ra mim
Dança, dança p'ra mim
À noite, esta noite.

Chegou o momento de parar a farsa
Estou farto de conduzir esse animal,
Sincero - dizem - no uso da palavra
Fotografia - página - jornal.

E se este for o teu sonho
A brisa do tempo mais secreto,
O sonho rasga as entranhas
E os chacais já andam muito perto.

Mas dança, dança, dança p'ra mim
Dança, dança p'ra mim
À noite, esta noite.

O assassino ergueu-se das trevas do sucesso
E conduziu um carro azul por entre círculos de mulheres,
E esse assassino eras tu
Roçando o imenso - quente - prazer de provocar,
Esse assassino eras tu
Mulher, mulher, mulher do meu encanto.

Quero o meu nome ou o teu nome
Quero o meu nome ou o teu nome.

Mas dança, dança, dança p'ra mim
Dança, dança p'ra mim
À noite, esta noite.


8. ÍNTIMO (REGRESSO DO INFERNO)

Envolto em chamas, o regresso às armas
Por estes momentos, por novos encantos,
Alguém que se apresse, alguém que me abrace
E passeie junto à beira de amar,
E assim escorregue à beira do mar
Em silêncio a mergulhar.

E eu vou regressar - ah eu vou regressar.

Alguém que escute o primor da guitarra
A voz lenta, a tarde calma,
Às vezes só quero brindar a esta farsa
Soltar-me de mim, transbordar a taça.

E eu vou regressar - ah eu vou abusar.

Há uma vida secreta, uma vida só tua
Onde um homem encerra o prazer e a amargura,
Há um lugar na vida onde podes voltar
Uma fuga em ti de nunca mais parar.

E eu vou regressar - ah eu vou regressar.

De palco em palco andei por aí
Conduzindo um sonho e quatro candeias,
Experimentei sempre tentei ser feliz
Há quem diga que abusei à minha maneira.

E eu vou repetir - ah eu vou repetir
E eu vou abusar - ah eu vou abusar.


lyrics added by andregraca - Modify this lyrics