UHF : O Melhor de 300 Canções

Rock / Portugal
(2015 - Am Ra Discos)
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Las palabras

DISC 1

1. PUSESTE O DIABO EM MIM

Puseste o diabo em mim
puseste o diabo em mim,
E lançaste fogo
entregando o teu corpo,
Ensinaste-me a agir
a tentar e a conseguir.

Puseste o diabo em mim
Puseste o diabo em mim.

Vieste com a chuva e floriste
vieste com a chuva e floriste,
Entre os cheiros da resigna
e da erva crescida,
Remexeste nas ideias
como larva em sementeira.

Puseste o diabo em mim
Puseste o diabo em mim.

Vieram histórias na bagagem
vieram histórias na bagagem,
E armaste em professora
trinta anos já dão escola,
Dando o corpo, dando a alma
quando a palavra se cala.

Puseste o diabo em mim - puseste
Puseste o diabo em mim - puseste
Puseste, puseste, puseste.

Fizemos coro no soalho
fizemos coro no soalho,
Dando vida à penumbra
arco Íris de ternura.

Puseste o diabo em mim - puseste
Puseste o diabo em mim - puseste
Puseste, puseste, puseste.


2. CAVALOS DE CORRIDA

Agora, que a corrida estoirou
e os animais se lançam no esforço,
Agora, que todos eles aplaudem
a violência em jogo.

Agora, que eles picam os cavalos
violando todas as leis,
Agora, que eles passam ao assalto
e fazem-no por qualquer preço.

Agora, agora, tu és um cavalo de corrida.

Agora, que a vida passa num flash
e o paraíso é além,
Agora, que o filme deste massacre
é a rotina Zé Ninguém.

Agora, que perdeste o juízo
a jogar esta cartada,
Agora, que galopas já ferido
procurando abrir passagem.

Agora, agora, tu és um cavalo de corrida
Agora, agora, tu és um cavalo de corrida.


3. MATAS-ME COM O TEU OLHAR

Noites frias de marfim
noites frias ao luar,
A conversa já no fim
matas-me com o teu olhar.

Matas-me com o teu olhar
Matas-me com o teu olhar.

Sabes que esta vida corre
como a sombra pelo chão,
Nada fica, tudo foge
ouve a voz do coração.

Matas-me com o teu olhar
Matas-me com o teu olhar,

São como cubos de gelo
que eu sinto ao tocar,
As palavras têm medo
matas-me com o teu olhar.

Matas-me com o teu olhar
Matas-me com o teu olhar,
Com o teu olhar.


4. OS PUTOS VIERAM DIVERTIR-SE

Os putos estão aqui, para mostrar que é assim
que tudo começa, os putos vieram divertir-se,
Os putos saíram de casa, pela estrada da fama
em cada concerto, os putos souberam divertir-se.

Juntos p'ra vencer, pagaram p'ra tocar
Venha quem vier, os putos vieram p'ra ficar.

Filhos desta terra, cresceram à pressa
doa a quem doer, os putos vieram divertir-se,
Por isso em cada canção, oiço a voz de uma nação
os putos e os fãs, juntos, vieram divertir-se.

Juntos p'ra vencer, pagaram p'ra tocar
Venha quem vier, os putos vieram p'ra ficar.

Os putos estão aqui, para mostrar que foi assim
que tudo começou, os putos vieram divertir-se,
Juntos p'ra vencer, pagaram p'ra tocar
Venha quem vier, os putos vieram p'ra ficar, p'ra ficar.


5. PERSONA NON GRATA

Desde os bancos da escola
na rua em que cresci,
Aprendi a desarmar
as armadilhas que vi.

Com ideias em chamas
e nuvens no olhar,
Fui cortando as amarras
conversando sem falar.

Rola, rola, persona non grata
Rola, rola, persona non grata.

Dei comigo homem feito
entre bonecos de palha,
Uns políticos suculentos
outros figuras mutiladas.

Ah, não me calem a voz
vou destruir a desgraça,
Que essa marca lusitana
francamente não me agrada.

Rola, rola, persona non grata
Rola, rola, persona non grata.

Farto da espera
e de aguentar,
Abram-me as portas
que eu vou entrar.

Rola, rola, persona non grata
Rola, rola, persona non grata,
Persona non grata, persona non grata.


6. MENINA ESTÁS À JANELA

Menina estás à janela
com o teu cabelo à Lua,
Não me vou daqui embora
sem levar uma prenda tua.

Sem levar uma prenda tua
sem levar uma prenda dela,
Com o teu cabelo à Lua
menina estás à janela.

Estás à janela
com o teu cabelo à Lua,
Não me vou daqui embora
sem levar uma prenda tua.

Uma prenda tua
sem levar uma prenda dela,
Com o teu cabelo à Lua
menina estás à janela.
Cabelo à Lua menina, estás à janela.


7. UM MAU RAPAZ

Sou o mau da fita
sou o filho enjeitado,
Sou a noite no teu dia
sou a obra do diabo.

Sou o assassino
que vagueia pela cidade,
Procurando vítimas
e ganhando publicidade.

Sou esse animal
que destrói o teu sossego,
O monstro das sete cabeças
que aperta o cerco.

Sou o inimigo
que expia o teu azar,
O prisioneiro da história
mais fácil de acusar.

Sou, sou, um mau rapaz
Sou, sou, um mau rapaz.

Sou, sou, um mau rapaz
a tua melhor prenda de Natal,
Sou, sou, um mau rapaz
Sou, sou, o mau da fita
Sou ooh, sou ooh, o mau da fita.


8. JORGE MORREU

Ele andava por aí
como tu e eu andamos,
Queimando um cigarro
queimando os nervos.

Nevoeiro no cérebro
num bailado de fantasmas,
Entre o frio e o zelo
e a importância dos notáveis.

Jorge morreu, Jorge morreu.

Ele tinha a tua cara
ele tinha a minha cara,
Ele era ninguém
que a vida desafiava.

Jorge um dia passou
à frente da ventania,
Entoando o refrão
e uma velha melodia.

Jorge morreu, Jorge morreu.

Jorge, Jorge, onde estás? Onde estás?
Jorge, Jorge, onde estás? Onde estás?
Quem te matou?

Deixou a cidade
subiu à montanha,
Entrando na paisagem
onde um homem se amanha.

Jorge parou
os ponteiros da vida,
Mergulhando os olhos
no mar de água fria.

Jorge morreu, Jorge morreu.


9. NOVE ANOS

Nove anos é tanto tempo
passei a correr por aí,
Com uma guitarra bandoleira
espalhando cinzas pelo país.

Conheci gente de todo o lado
floresta minha uivando sem parar,
E outra gente daqui bem perto
armas escritas surdas a matar.

Há nove anos soltei amarras
Em nove anos peguei de caras, peguei de caras.

Mordi nos sorrisos mais estridentes
hotel à noite, outra cidade,
Entrei pelos olhos mais descarados
fácil de mais para ser verdade.

Senti o medo à beira do palco
olhei a cor da provocação,
Armei cantor esse pateta
a glória da vida é uma canção.

Há nove anos soltei amarras
Em nove anos peguei de caras, peguei de caras.

Caí no cerco, caí a fingir
a velha história de camas desfeitas,
Molhei a espera do ouro do whisky
um cabotino que o ódio espreita.

Em nove anos corri sem parar
com as raízes fora da terra,
Diverti-me assim sem ligar
a morte cínica de uma fera.

Há nove anos soltei amarras
Em nove anos peguei de caras, peguei de caras.
Há nove anos.


10. QUANDO (DENTRO DE TI)

Quando te sentes em baixo
e o mundo está confuso,
Quando o sonho é pecado
e tu apenas intruso.

Quando o dia amanhece
Há uma força dentro de ti
E dentro de mim.

Quando te negam a água
e à volta só deserto,
Quando os amigos falham
e a aposta não deu certo.

Quando o dia amanhece
Há uma força dentro de ti
E dentro de mim.

Quando sentes que o destino
te prega uma partida,
Quando sentes o perigo
de não haver saída.

Quando o dia amanhece
Há uma força dentro de ti
E dentro de mim.


11. MENINO (CANÇÃO DA BEIRA BAIXA)

Quando eu era pequenino, quando eu era pequenino
acabado de nascer, acabado de nascer,
Ainda mal abria os olhos, ainda mal abria os olhos
já eram para te ver, já eram para te ver.
La, la, la.

Quando eu já for velhinho, quando eu já for velhinho
acabado de morrer, acabado de morrer,
Olha bem para os meus olhos, olha bem para os meus olhos
sem vida te hão-de ver, sem vida te hão-de ver.
La, la, la.


12. QUERO ENTRAR EM TUA CASA

O que é que vais esconder
o que guardas de mim,
Deitar tudo a perder
esquecer não é o fim.

Como o mar abraça a ilha
vi o céu beijar o mar,
O amor de uma vida
fica nos olhos a brilhar.

Quero entrar em tua casa
e beijar-te sem parar,
Sigo só por esta estrada
marco os dias p'ra voltar.

É perigoso abrir a porta
e deixar o amor entrar,
Por ti, repito a história
voo livre sobre o mar.

Quero entrar em tua casa
e beijar-te sem parar,
Sigo só por esta estrada
marco os dias p'ra voltar.


13. HESITAR

A noite convida, na noite se agita
o vulto esquivo de uma mulher,
Querer tocá-la, saber tentá-la
contar-lhe histórias de comover.

Hesitar, hesitar
Não, não consigo evitar
Evitar, hesitar.

Do lado quente do Sol nascente
se tu quiseres o fogo a arder,
Do lado quente, se for bem quente
pode doer, doer a valer.

Hesitar, hesitar
Não, não consigo evitar
Evitar, hesitar.

É como se a espera
fosse o gozo maior,
E eu a fera
incapaz de melhor.

Hesitar, hesitar
Não, não consigo evitar
Evitar, hesitar.


14. UM COPO CONTIGO

Brindar a tudo
beber por nada,
A maré cheia
e a boca amarga.

Quem bebe assim
merece a taça,
E se ele cair
levem-no a casa.

Vive um homem
nessa figura,
Dançando medos
no fim da rua.

A noite morre
na manhã clara,
É tão difícil
chegar a casa.

Eu não me escondo, não me esquivo
eu bebo sempre um copo contigo,
Um copo, um copo contigo
eu não me escondo.


15. DEVO EU

Devo eu dizer que te quero
e que a espera me destrói o desejo,
Devo eu ser sincero
e revelar-te o que penso.

Devo eu, devo eu, devo eu
Devo eu ser sincero.

E se eu quiser transformar
chapinhar na calmaria,
Por certo vou molhar
o rosto da tua alegria.

Devo eu, devo eu, devo eu
Devo eu ser sincero.

Um homem pode sempre dançar
segurado no seu encanto,
E pode sempre inventar
as ilusões do seu tamanho.

Devo eu, devo eu, devo eu
Devo eu ser sincero, ser sincero.


16. SARAJEVO (VERÃO 92)

Diz-me que este verão foi mentira
nada disto está a acontecer,
Sarajevo um alvo nas miras
e os polícias do mundo estão a ver.

Jugoslávia bonita, filha da Europa
Fronteiras malditas que o ódio devora
Sarajevo, Sarajevo, ohh, oh.

É no centro do velho continente
que a matança das raças se consome,
Esse homem de pé deve morrer
no terreiro de caça só o medo se move.

Jugoslávia bonita, filha da Europa
Fronteiras malditas que o ódio devora
Sarajevo, Sarajevo, ohh, oh.

Sarajevo não tem fim
a vergonha está isenta,
Assim apodrece um país
no palco deste planeta.

Jugoslávia bonita, filha da Europa
Fronteiras malditas que o ódio devora
Sarajevo, Sarajevo, ohh, oh.

O pior dos animais anda à solta
a vingança nos olhos ancestrais,
Uma solução final que se retoma
Hitler à mesa dos chacais.

Jugoslávia bonita, filha da Europa
Fronteiras malditas que o ódio devora
Sarajevo, Sarajevo, ohh, oh.


17. O VENTO MUDOU

Oiçam, oiçam,

O vento mudou
ela não voltou,
As aves partiram
as folhas caíram.

Ela quis viver
e o mundo correr,
Prometeu voltar
se o vento mudar.

E o vento mudou
e ela não voltou,
Sei que ela mentiu
p'ra sempre fugiu.

Vento por favor
traz-me o seu amor,
Vê que eu vou morrer
sem não mais a ter.

Nuvens tenham dó
que eu estou tão só,
Batam-lhe à janela
chorem sobre ela.

E as nuvens choraram
e quando voltaram,
Soube que mentira
p'ra sempre fugira.

Nuvens por favor
cubram minha dor,
Já que eu vou morrer
sem não mais a ter.

Oiçam, oiçam, oiçam.


18. (FOGO) TANTO ME ATRAIS

O fogo cresce em lugares incertos
e esse fogo queima aqui por dentro,
O fogo está sempre aqui tão perto
é o meu deserto e eu vivo dentro.

Este vinho escorre e a sede aumenta
um convite directo que não me espanta,
É o fogo proibido que me cerca e tenta
finjo-me perdido, a presa certa.

Fogo, fogo, tanto me atrais
Fogo, fogo, tanto me atrais.

O corpo sustenta o tempo suspenso
a poeira imensa que traz o vento,
Tudo me cansa e tudo aguento
a estória recomeça perdendo encanto.

Fogo, fogo, tanto me atrais
Fogo, fogo, tanto me atrais.


19. RUA DO CARMO

Rua do Carmo, rua do Carmo
mulheres bonitas subindo o Chiado,
Mulheres alheias, presas às montras
alguns aleijados em hora de ponta.

Olha como é a rua do Carmo
Olha como é a rua do Carmo.

Jornais que saem do Bairro Alto
putos estendidos, travando o passo,
Onde o comércio cativa turistas
quem come com os olhos já enche a barriga.

Olha como é a rua do Carmo
Olha como é a rua do Carmo.

Soprando a vida passam estudantes
gingando as ancas, lábios ardentes,
Subindo com pressa abrindo passagem
chocamos de frente, seguimos viagem.

Olha como é a rua do Carmo
Olha como é a rua do Carmo,
Heh, heh.


20. RAPAZ CALEIDOSCÓPIO

Um intelectual de ar estafado
um homem de faces cavadas na noite,
Cruza o Bairro Alto no silêncio dos ténis claros
em passos largos de dança.

Ele é um duro como rock
fã da violência,
E olha a vida pelos óculos
gingando cadência,
Veste cabedal que é napa preta,
Heyahoh la la la.

Quando a fome aperta
ele toma o caminho da fábrica ou do estaleiro,
E na próxima fuga entra na pele do animal
que o torna agressivo, reputação ideal.

Ele é um duro como rock
fã da violência,
E olha a vida pelos óculos
gingando cadência,
Veste cabedal que é napa preta,
Heyahoh la la la.


DISC 2

1. SOUBE SEMPRE QUE ERAS TU

Passei demasiado tempo sozinho
à espera de um sonho perfeito,
Muitas vezes no luxo mendigo
escolhi o caminho mais estreito.

Não sei por que espero por ti
porque consagro novas disciplinas,
Que enchem o mundo só para mim
nesta casa de sombras e cinzas.

Soube sempre que eras tu
a mulher do meu destino,
Uma mulher como tu
uma luz no meu caminho.

Fingi que o tempo estava comigo
e ele não parava de gargalhar,
Adiar o que mexe comigo
é perder o que está a passar.

Soube sempre que eras tu
a mulher do meu destino,
Uma mulher como tu
uma luz no meu caminho.


2. ESTOU DE PASSAGEM

Dá-me abrigo por esta noite
dá-me abrigo por esta noite,
Procuro conforto no teu cobertor
a noite prepara jogos de amor,
Febre que sobe e acende a fogueira
entre as chamas vivas da fogueira.

Dói-me cá dentro ao certo não sei
dói-me cá dentro ao certo não sei,
Dói-me o inferno da minha arte
dói-me o silêncio da tua carne,
Feito sossego nas minhas mãos
é quente o silêncio das tuas mãos.

Dá-me um bilhete p'ro inferno.

São línguas de fogo que entram pelo corpo
são línguas de fogo que entram pelo corpo,
São noites de assombro e descoberta
em busca da vida estou de passagem,
Parto contigo na minha bagagem
parto sozinho p'ra longa viagem.

Dá-me um bilhete p'ro inferno.


3. A MINHA GERAÇÃO

A minha geração
acreditou em promessas,
Engrossou a procissão
foi indo na conversa.

Aceitou o futuro
como se fosse presente,
A cenoura e o burro
qual dos dois vai à frente.

A minha geração
deu tudo por uma casa,
Mistério e padrão
de uma vida hipotecada.

Encheu-se de rotinas
começou pelo casamento,
Uma vida preenchida
sem nada por dentro.

A minha geração, a minha geração.

A minha geração
ainda fuma um charro,
Essa espécie de refrão
que acende o passado.

Transferiu para os filhos
os sonhos adiados,
Chamou-lhe destino
nos versos de um fado.

A minha geração, a minha geração.

Trocou a felicidade
por bens de consumo,
A jura e a vontade
de querer mudar o mundo.

Jogou à cabra cega
deixou-se apanhar,
A vida é uma arena
onde nos querem lixar.

A minha geração, a minha geração
A minha geração.


4. UMA PALAVRA TUA

Provei o açúcar
de sabor amargo,
Acordei dormente
alguém a meu lado.

Como um castigo
o dia não passa,
Imóvel a presa
o Sol na vidraça.

Nesta indiferença
de não escolher,
A crua verdade
tem rosto de mulher.

Violei as leis
passei entre a chuva,
Em tudo procurei
uma palavra tua.


5. NA TUA CAMA

Na tua cama
onde as horas se consomem,
Na tua cama
fui de rapaz até homem.

Mexendo lençóis nos poemas
bebendo aos poucos sem pressa,
Abriste-me o teu abrigo
ficarei preso contigo.

Na tua cama, na tua cama.

Na tua cama
houve murmúrios de ondas,
Na tua cama
o brilho da lua nas águas.

O cheiro do corpo é quente
a ânsia que faz o instante,
Tomar conta de nós
palavras tantas sem voz.

Na tua cama, na tua cama.

E se algum dia nos afastarmos
é porque o jogo não pode durar,
E se algum dia nos encontrarmos
é a vida que eu quero desafiar.

Na tua cama, na tua cama
Na tua cama.


6. O TEMPO É MEU AMIGO

És tu, a eterna paixão
fruto proibido, a nova canção,
És tu, a flor do silêncio
chama que vive e guarda segredo.

O tempo é meu amigo
anda aqui a segredar,
O amor escolhe um caminho
não se deixa enganar.

És tu, que guardas as horas
tomas a noite quando telefonas,
És tu, fogo, desejo
suave murmúrio que traz o vento.

O tempo é meu amigo
anda aqui a segredar,
O amor escolhe um caminho
não se deixa enganar.

És tu, a cor do poema
história feliz que vive secreta.

O tempo é meu amigo
anda aqui a segredar,
O amor escolhe um caminho
não se deixa enganar.


7. DANÇA COMIGO (ATÉ O SOL NASCER)

O Sol a pôr-se, o céu nas águas
Os olhos parados na tarde calma.

Será por ti que guardo o tempo
Neste segredo, luz e silêncio.

Dança comigo, a primeira vez
Ficarei contigo até o Sol nascer.

Quero-te tanto, por ti esperei
Por este dia mil anos passei.

Tu és o anjo que me protege
O grande amor que a vida me deve.

Dança comigo, a primeira vez
Ficarei contigo até o Sol nascer.


8. VIVER PARA TE VER

Quero gostar de ti
sem saber porquê,
Sentir o que senti
a primeira vez.

Sem fazer perguntas
apenas desfrutar,
Duas vidas juntas
unidas para amar.

Viver para te ver
de manhã ao acordar,
O coração a bater
para te abraçar.

Calo as palavras
só os olhos a brilhar,
Secreta é a fala
sonhos a vibrar.

Viver para te ver
de manhã ao acordar,
O coração a bater
para te abraçar.


9. FOGE COMIGO MARIA

Foge comigo Maria
para longe desta terra,
Meu amor p'ra toda a vida
é a paixão que nos leva.

Foge, comigo Maria
Foge, comigo Maria, já.

Se tu fosses girassol
eu seria beija flor,
Nesta cama sem lençol
se repete o nosso amor.

Foge, comigo Maria
Foge, comigo Maria, já.

Deita fora esse lenço
não te quero a chorar,
Se o teu pai é burro velho
só nos resta não voltar.

Foge, comigo Maria
Foge, comigo Maria, já
Foge já.

De quem são estas palavras
que me escreves meu amor,
Se o vento seca as lágrimas
não me cala esta dor.

Foge, comigo Maria
Morre, comigo Maria
Foge, que eu fujo contigo, já.


10. BRINCAR NO FOGO

Jogar um jogo
eternamente,
Lançando fogo
a toda a gente.

No alto risco
a tentação,
O imprevisto
provocação.

O fogo posto
rastilho aceso,
Escondes-me o rosto
não sei se quero.

Ser e não ser
e até fingir,
Quero tremer
deixa-me ir.

Brincar, brincar e o fogo a queimar
Brincar, brincar e o fogo a queimar
Brincar no fogo.

Venho sem medo
como um intruso,
Um vento seco
um sopro surdo.

Toca no fogo
leva-me a sério,
Sou o actor
deste mistério.

A história é curta
rocambolesca,
A chama em luta
é chama acesa.

Quero mentir
quero enganar,
Não sei fugir
vais-me apanhar.

Brincar, brincar e o fogo a queimar
Brincar, brincar e o fogo a queimar
Brincar no fogo.

E se a farsa
não tiver fim,
Foi a brincar
que me perdi.

Brincar no fogo, brincar no fogo
Brincar, brincar e o fogo a queimar
Brincar no fogo.


11. FERIR ATÉ À DOR

Tentar a vida sem a agarrar
olhar para ti e perguntar,
Que é feito do amor
juntos aqui será melhor,
Porquê ferir até à dor
a vida arde e o sonho queima.

É tão difícil viver sem ti
tentei o truque só eu perdi,
Querer tocar-te e não tocar
querer um beijo e não tentar,
Pensar que posso acabar
nesta esquina sem morada.

E que é feito do amor
juntos aqui será melhor,
Porquê ferir até à dor
a vida arde e o sonho queima.

Pergunto à vida o que falhou
mas foi a vida que me calou,
Tudo se ergue contra mim
e já começo a sentir,
Que este homem vai cair
nessa esquina sem morada.

E que mais posso eu te dar
se o amor está todo aqui,
Talvez tu possas regressar
por esta porta, vamos partir.

E que é feito do amor
juntos aqui será melhor,
Porquê ferir até à dor
a vida arde e o sonho queima.
E o sonho queima, e o sonho queima...


12. A LÁGRIMA CAIU

Tu sabes bem
que o amor se perdeu,
Não o faças refém
foi meu e teu.

Foi o que foi
o que nós deixamos,
Inocentes os dois
culpados ficamos.

A lágrima caiu
sem tu saberes,
Por ti caiu
a última vez.

A flor da saudade
que nasce selvagem,
Daninha se espalha
por toda a paisagem.

Por todos os locais
em todos os cheiros,
Há histórias reais
de um cativeiro.

A lágrima caiu
sem tu saberes,
Por ti caiu
a última vez.

Um dia, talvez
possamos lembrar,
De novo, talvez
falar sem gritar.

A lágrima caiu
sem tu saberes,
Por ti caiu
a última vez.


13. AMÉLIA RECRUTA

Um, dois, três
e a Amélia a correr,
A marchar, a marchar
outra vez!

Em tempo de paz
é tempo de guerra,
A Amélia recruta
parece uma fera.

Brincar aos cowboys
rastejar na terra,
Olha o inimigo
que está à espera.

Quem é o inimigo
que vais atacar,
A sombra? O arbusto?
não podes falhar.

Um, dois, três
e a Amélia a correr,
A marchar, a marchar
outra vez!

Haverá sempre quem diga
que a tropa faz o homem,
É velha a cantiga
ordem na desordem.

Parada a luzir
mil botões de latão,
O sentido e o dever
a bem da nação.

E o que dói mais
se a vida não espera,
São conversas fiadas
histórias de caserna.

Um, dois, três
e a Amélia a correr,
A marchar, a marchar
outra vez!

Marchar, marchar
Sem dor, sem medo
Até ao fim o soldadinho é brinquedo.


14. SONHOS NA ESTRADA DE SINTRA

Poisa o teu braço no meu
ajuda-me a seguir,
Ao virar esta esquina
há um paraíso por descobrir.

Não quero que assistas a esta lenta bebedeira
porto-me como uma criança faminta,
Vem embriagar-te comigo à beira
ah, de um barco, copo de absinto.

Mas dança, dança, dança p'ra mim
Dança, dança p'ra mim
À noite, esta noite.

Chegou o momento de parar a farsa
estou farto de conduzir esse animal,
Sincero - dizem - no uso da palavra
fotografia - página - jornal.

E se este for o teu sonho
a brisa do tempo mais secreto,
O sonho rasga as entranhas
e os chacais já andam muito perto.

Mas dança, dança, dança p'ra mim
Dança, dança p'ra mim
À noite, esta noite.

O assassino ergueu-se das trevas do sucesso
e conduziu um carro azul por entre círculos de mulheres,
E esse, esse assassino, eras tu
roçando o imenso - quente - prazer de provocar,
Esse assassino eras tu
mulher, mulher, mulher do meu encanto,
Quero o meu nome ou o teu nome.

Mas dança, dança, dança p'ra mim
Dança, dança p'ra mim,
À noite, esta noite.


15. TOCA-ME

Toca-me, sem uma palavra
só a tua pele e a tua alma.

Toca-me, o tempo vai
movendo a luz do meu olhar.

Toca-me, que tenho medo
pode o amor guardar segredo?

Toca-me, nesta penumbra
depois de ti, a noite dura.

Toca-me, meu amor, toca-me, meu amor.

Toca-me, sem uma palavra
só a tua pele e a tua alma.

Toca-me meu amor, toca-me meu amor
Toca-me meu amor, toca-me meu amor.


16. VERNÁCULO (PARA UM HOMEM COMUM)

Estou cansado, pá, cansado e parado por dentro
sem vontade de escolher um rumo,
sem vontade de fugir, sem vontade de ficar.
Parei por dentro de mim, olho à volta e desconheço o sítio
as pessoas, a fala, os movimentos,
a tristeza perfilada por horários,
este odor miserável que nos envolve,
como se nada acontecesse e tudo corresse nos eixos.

Estou cansado destes filhos da puta que vejo passar,
idiotas convencidos que um dia um voto lançou pela tv,
e se acham a desempenhar uma tarefa magnífica.
Com requinte de filhos da puta, sabem justificar a corrupção
o deserto das ideias, os projectos avulso para coisa
nenhuma, a sua gentil reforma e as regalias.
Esses idiotas que se sentam frente-a-frente no ecrã
à hora do jantar para vomitar o escabeche
de um bolo de palavras sem sentido.

Filhos da puta, porque se eternizam,
se levam a sério e nos esmigalham o crânio
com as suas banalidades: "O sôtor, vai-me desculpar."
O que eu quero é mandá-los cagar para um campo
de refugiados qualquer, vê-los de Marlboro entre os dedos
a passear o esqueleto, entre os esqueletos,
naquela mistura de cheiros e cólicas que sufoca,
apenas e só - sufoca.

Estou cansado, cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente, com ferrete
Obediente, obediente.

Estou cansado de viver neste mesmo pequeno país
que devoram, escudados pelas desculpas
mais miseráveis. Este charco bafiento onde eles pastam.
Gordos que engordam, ricos que amealham sem parar,
idiotas que gritam, paneleiros que se agitam
de dedo no ar. Filhos da puta a dar a dar,
enquanto dá a teta da vaca do Estado.
Nada sabem de história, nada sabem porque nada lêem,
além da primeira página da Bola, o Notícias a correr
e o Expresso, porque sim! Nada sabem das ideias
do homem, da democracia, Atenas e Roma,
os Tribunos e as portas abertas, e a ética e o diálogo
que inventaram o governo do povo pelo povo.

Apenas guardam o circo e amansam as feras,
dão de comer à família até à diarreia,
aceitam a absolvição, e lavam as manipulas
na água benta da convivência sã, desde que todos
se sustentem na sustentação do sistema.
Contratualizem (oh neologismo) o gado miúdo,
enfatizem o discurso da culpa alheia
pela esquizofrenia politicamente correcta:
Quando gritam, até parece que se levam a sério,
mas ao fundo, na sacristia de São Bento,
o guião escrito é seguido pelas sombras vigentes.

Estou cansado, cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente, com ferrete
Obediente, obediente.

Estou farto de abrir a porta de casa e nada estoirar
como na televisão. Não era lá longe, era aqui mesmo,
barricadas, armas, pedradas, convulsão, nada,
não há nada. Os borregos, as ovelhas e os cabrões
seguem no carreiro como se nada lhes tocasse,
e não toca. A não ser quando o cinto aperta.
Mas em vez da guerra, fazem contas para manter a fachada:
Ah, carneirada! Vossos mandantes conhecem-vos
pela coragem e pela devoção na gritaria do futebol
a três cores, pelas falas de quem voa baixinho
e assume discursos inflamados sem tutano.

Estou cansado, cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente, com ferrete
Obediente, obediente.

Estou cansado, pá, sem arte, sem génio, cansado:
Aqui presente está a ementa e o somatório erróneo
do desempenho de uma nação, um abismo prometido
camuflado por discursos panfletários:
Morte aos velhos! Morte aos fracos!
Morte a quem exija decência na causa pública!
Morte a quem lhes chama filhos da puta!
E essa mãe já morreu de sífilis à porta de um hospital.

Mataram os sonhos, prenderam o luxo das ideias livres,
empanturraram a juventude de teclados para a felicidade
e as famílias de consumo & consumo,
até ao prometido AVC, que resolve todas as prestações:
Quem casa com um banco vive divinamente feliz,
e tem assistência no divórcio a uma taxa moderada
pela putibor. Estou cansado, pá,
da surdez e da surdina, desta alegria por porra nenhuma,
medida pelo sorriso de vitória do idiota do lado
quando te entala na fila e passa à frente.
É a glória única de muita gente, uma vida inteira...

Uh uh ah ah, eleitos, cuidem da oratória...


17. ERA DE NOITE E LEVARAM

Era de noite e levaram
era de noite e levaram,
Quem nesta cama dormia
nela dormia, nela dormia.

Sua boca amordaçaram
sua boca amordaçaram,
Com panos de seda fria
de seda fria, de seda fria.

Era de noite e roubaram
era de noite e roubaram,
O que nesta casa havia
na casa havia, na casa havia.

Só corpos negros ficaram
só corpos negros ficaram,
Dentro da casa vazia
casa vazia, casa vazia.

Rosa branca, rosa fria
rosa branca, rosa fria,
Na boca da madrugada
da madrugada, da madrugada.

Hei-de plantar-te um dia
hei-de plantar-te um dia,
Sobre o meu peito queimada
na madrugada, na madrugada.


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